O amanhecer solarengo antecipa uma boa jornada. De café gelado em riste, avançamos O caminho, curto, é feito por entre ruelas nas quais os tradicionais telhados curvos das Hanoks coreanas sobressaem. A alma da cidade, do país, essa, sente-se, preservada no rosto aberto de um povo orgulhoso, que lida com o sofrimento e mudança desde há séculos, preservando, ainda assim, a esperança, uma síntese das vitórias que tiveram e das inúmeras que terão.
A nossa primeira paragem situa-se numa das colinas do bairro de Jongno-gu, museu do prolífico e talentoso artista coreano Park No-soo (1927-2013), que tendo vivido 86 anos presenciou praticamente todas as enormes transformações que a Coreia do Sul sofreu ao longo do século XX. O museu, antiga casa do artista, alberga algumas das suas obras, todas elas exemplificando o majestoso uso das cores vivas e translúcidas que caracterizam as montanhas, o rio, as cerejeiras em flor e os animais, elementos de significativa importância na obra de Park.
Esta casa-museu mantém a natureza original da sua habitabilidade, destacando-se aqui a secretária de trabalho do artista, na qual podemos ver ainda os pincéis, os pigmentos e todos os demais utensílios utilizados pelo artista no seu trabalho.
Finda a visita, prosseguimos a nossa caminhada.
A meu ver, numa viagem, a nossa percepção cultural primordialmente advém do simples ato de andar. O olhar atento que as pernas suportam é a chave. Aqui, em Seul, os autocarros são verde garrido, as padarias são constantes, os vendedores de peixe ambulante anunciam por megafone a sua presença, os mais velhos energeticamente coabitam por entre ruelas, lojas, cafés e restaurantes. Máquinas de arcade, karaokes em caves, anúncios de novelas e filmes dos anos 80, mercados, são apenas amostras de como a vida abunda na capital da terra do tigre branco.
A meio da tarde, acabamos por entrar numa pequena loja cujas delicadas chávenas de chá, ornamentadas com lindíssimas pinturas nos convidam a entrar. Lá dentro, provamos uma bebida que orgulhosamente o anfitrião nos presenteia. Honeyed omija, uma bebida de tons rosados, fresca, simultaneamente doce e áspera nas quantidades certas. Um prenúncio dos muitos contrastes que nos aguardam nesta jornada.
O tempo corre e pouco se importa se a nós nos apetece andar menos rapidamente. Os neons garridamente coloridos invadem a noite que acaba por chegar. O jantar, noodles frios com molho de soja, é preparado a escassos metros de onde nos sentamos, qual espetáculo gastronómico. Ladeados por locais sorridentes, temos a certeza que escolhemos o sítio certo para comer, mais que isso, para terminar o dia.





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