terça-feira, 31 de maio de 2022

Dias 11, 12, 13, 14, 15, 16 … de Maio, diário de bordo #15, final: Breve despedida


Reflexões. Olhar de novo o que já foi visto, como se de uma primeira e última vez se tratasse. O gesto do desenho substitui as palavras. São memórias que se entranham no papel. Gostaria de acrescentar reticências às datas, mas a finitude das coisas mundanas obriga a que reoriente a vela. Está altura de navegar a outros mares, desta feita, regressando a uma base que bem conheço. Levo, contudo, a memória guarnecida de boas memórias. Voltarei. Na brevidade das palavras que usamos na despedida, até já!



Dias 9 e 10 de Maio, diário de bordo #14: Busan

 


Busan, cidade portuária, de filmes, de férias, de comboio, de memórias, refúgio das guerras vindas do norte, proteção de invasões marítimas, um autêntico símbolo da resistência coreana. 

O porto, maior do país, carrega o alimento do mundo. Desde que aqui partem e chegam vidas, múltiplas, entrelaçadas, maquinas de rodas dentadas engenhosamente montadas para que nada falhe. 

Dois dias foram poucos. Um lugar a voltar com maior largueza de tempo e espírito. 


Dia 6, 7 e 8 de Maio, diário de bordo #13: Gyongsu

 

A Coreia do Sul já foi muitas Coreias. Invasões, conquistas, conquistas, batalhas. Seul, a capital, também já existiu sem o ser. O centro deste país, que já foi outro país, era Gyongsu, um tesouro que venturosamente pouco foi remexido ao longo do tempo, uma memória de fértil terreno para tempos que celebraram outras vidas. 



Enormes túmulos esféricos compõem a paisagem. O seu interior, um eterno mistério. Destacam-se ainda os reflexos mágicos noturnos perto do palácio de Donggung, antigo retiro de importantes príncipes, o templo de Bulguksa e as suas pagodas, e ainda o mais antigo observatório astronômico asiatico, Cheomseongdae. 

O dia de Buda, a 8 de Maio, coloriu a visita a uma das peças escultóricas mais bonitas que vi, a estátua de Seokguram. Esta celebração religiosa de enorme importância para o povo coreano atesta-se na afluência aos templos budistas que por toda a parte se pintam e adornam para a ocasião. A partilha do sorriso, reforço da fé perante o desconhecido, um conforto para a inquieta alma que desconhece o que vem além. 


Dias 26, 27, 28, 29, 30 de Abril e 1, 2, 3, 4 ,5 de Maio, diário de bordo #12: Explorar o desconhecido

 


Dias de exploração pela capital Sul Coreana. Continuo a encontrar e explorar novos lugares, bairros menos turísticos, galerias, museus. Os diários gráficos que vou colecionando com desenhos começam a conferir à minha estadia uma maior proximidade com esta nova cultura. O meu olhar e o que vou rabiscando estão cada vez a uma distância menor. 

Viajar é também uma atitude de descoberta interior provocada pelo desconforto. O alívio, todavia, vem sempre. Até no mais singelo acontecimento. 

Perdido no labiríntico metro, dou por mim parado à entrada de uma das cancelas. De repente, uma voz, que se direciona ao meu momentâneo embaraço. 

  • Olá! Precisas de ajuda? De onde és?

  • Olá! De Portugal, e sim, estou meio perdido…

  • Portugal?

  • Sim, perto de Espanha.

  • Que bom! Eu gosto muito de falar inglês. Não falo muito bem, mas gosto. Desculpa se estou a incomodar. O meu nome é Kim, prazer em conhecer-te. 

  • Nada disso, não incomodas nada. prazer em conhecer te Kim. 

E assim encontro o caminho. 


Dias 23, 24 e 25 de Abril, diário de bordo #11: A ilha de Jeju

 

A ilha de Jeju, a sul, é a próxima paragem. De avião, a partir de Seul, controle de passaporte, nome esquesito, o meu, de inpronaciabilidade para este povo. O apóstrofo confunde até as máquinas, veja-se.  

Ilha vulcânica, hexágonos rochosos formados por geológicos processos que desconheço, as cascatas e laranjas abundam. O verde, aqui, mais a sul, é mais saturado. Talvez seja a felicidade, mais comum por estas bandas, não fosse este o mais popular destino de férias do povo Coreano. Os casais passaram-se, a estatística empírica indica que são mais as mãos entrelaçadas que as soltas. 




Nesta zona eleva-se todo e qualquer potencialidade, por mais pequena que um primeiro olhar possa indicar, a uma obrigatória paragem. Existe algo para todo e qualquer gosto.

O ponto alto vem no fim. A pé, a subida a Seongsan Ilchulbong, uma cratera vulcânica, merecidamente o mais icónico ponto de paragem da ilha de Jeju. A beleza da vertical conquista deste altivo e orgulhoso marco silencia totalmente o esforço físico. O topo aconchega até aqueles que contrariam os números e se passeiam com ambas as mãos soltas, na esperança de um dia voltarem com metade dos dedos já aconchegados.


Dia 19, 20, 21 e 22 de Abril, diário de bordo #10: Museus e artistas, pérolas Coreanas

 

De volta a Seul, dias de  museus, novas descobertas artísticas. O escultor Kwon Jin Kyu (1922-1973), a pintora e escritora Kyung-ja Chun (1924-2015), os pintores Byen Ung-pil (1970-), Kim Won Sook (1953 - ), Kim Ki;chang (1913 - 2001), Lee Jung-Seob (1916-1956), Park Sung Kwang (1904-1985)  e Park Soo-geun (1914-1965). Embrenhar-me na cultura Coreana deu asas ao fascínio pela diversidade de estilos, um misto entre a delicadeza da pintura oriental, com o imediatismo experimental ocidental do século XX, exportado com mestria e visto com uma frescura única, fusão de resultados tremendo, a mestria do consolo confrontacional, mas que descreve universais estados de alma, preocupações, alma que pouco liga a fronteiras geográficas ou sociais. O trabalho de gerações recentes de artistas Coreanos é uma pérola que merece ser projetada ao mundo. 


Dia 16, 17 e 18 de Abril, diário de bordo #9: Ilha de Nami, Naksansa e a montanha de Seoraksan

 


De novo fora da grande cidade, os próximos dias são recheados de histórias, mitos, no fundo, uma ode à transversalidade da cultura Coreana. 

A ilha de Nami, em Gapyeong, é acessível por barcos turísticos de frequente passagem. Lugar de antíteses, actos heróicos de um general que morreu novo e deixou incompleto um coração de uma donzela que ainda hoje não consegue deixar de procurar o seu amado, ectoplasma translúcido que tormenta a ilha. 



Segue-se o templo de Naksansa, fundado em 671, pelo monge Uisand Daesa, na costa Oeste da Coreia do Sul, inspirado por Avalokitesvara Bodhisattva (símbolo da compaixão Budista). Seguindo por entre Pagodas, Bambu chego ao templo principal. Entro, não sem antes tirar os sapatos, sinal máximo de respeito. Segundo os meus companheiros de viagem, devo curvar-me três vezes, em jeito de devoção e agradecimento, a Buda, Dharma (aprendizagem) e a Sangha (a comunidade budista). 

E finalmente, a montanha de Seoraksan, enorme, sublime, no topo, a pintura real da natureza, é impossível imitar o degradê que se desvanece no horizonte, menos ainda quando o vento, generoso, nos embala com o canto de monges de um mosteiro local. Paro, e retorno a leituras antigas de Haikus, versos que simplificam de forma bela a complexidade da natureza. Rocha, vento, horizonte, o dia a chegar ao fim, a certeza de que outro em breve lhe sucederá. 


Dias 11, 12, 13, 14, 15, 16 … de Maio, diário de bordo #15, final: Breve despedida

Reflexões. Olhar de novo o que já foi visto, como se de uma primeira e última vez se tratasse. O gesto do desenho substitui as palavras. São...